Abaixo das folhas, haviam caído algumas sementes, que a árvore cuidara regando com o seu suor no sol quando estavam com calor, ou desviando a água torrencial da chuva com suas grandes folhas para as redondezas, para que não machucassem a pequena a crescer.
Assim, a pequena brotou, ela possuía algumas folhagens brancas, e talvez por isso fosse um pouco estranha para ter nascido de quem nasceu. A árvore, de tantas sementes que tinha plantado, não sabia mais qual de suas filhas era, mas por ser sua e estar perto, a confortou em seu seio na sombra, escolhendo aceitar o desconhecido que foi escolhido por e pra si.
As primeiras folhagens da pequena íam para o céu, brancas claras que refletiam boa parte da Luz que vinha do Sol. Sua mãe teve de amamentá-la com sua seiva, que deixava repousar no princípio de um botão de flor, eslongadinho. Com o tempo, o botão foi distribuindo a sua seiva ao longo de suas folhas, as revestindo e dando a elas uma moldura rosa avermelhada, coisa que favoreceu a pequena captar melhor as energias do Sol.
A Mãe observava de noite a filha, que, olhava para as estrelas e para a Lua, ficando contorcida em sua direção, suas folhas em espirais. Imitava um girassol que ao invés de ser receptivo como uma bolinha, tinha um chifre e se fazia ir ao encontro, irradiando a pouca Luz que havia captado no dia. A Mãe então observava a Lua, e se perguntava se a Lua podia ouvir as preces e as conversas de sua filha.
Crescida, se fez valer assim como a mãe, pois era frondosa de folhagens mas de tronco, só havia tido aquele pequeno vermelho rosa, que agora estava pingado de azulado, revestindo as suas folhas brancas. Os animais, abelhas e besouros, ficavam confusos de como extrair o seu néctar, pois, ele vinha de seu galho que continuava a ficar sempre doce. Lá, havia fontes de energia aparentemente inacabáveis. Embora pudessem ser extraídas, no caminho de casa de volta, a seiva caía da boca dos besouros e pavimentava o chão com princípios de folhagens brancas e a seiva retornava ao solo. Isto poderia ter dado problemas para os besouros explicarem aos da sua comunidade o que aconteceu, salvo não fosse a sapiência e a calma de seus líderes que se reuniram e afirmaram que todos deveriam ir cada um conhecê-la para sentir de perto.
Inúmeros animais se reuniram, dos iniciais insetos que souberam; os besouros, as abelhas, as joaninhas, estes contaram para os gafanhotos que deixaram escapar sem querer para as formigas, e essas disseram aos pássaros ao que lhe ofereciam esta história em troca de um favor de não mexer com seus formigueiros no pouso, e os pássaros, quando se sentavam para dormir, nanavam os seus semelhantes com a história e as corujas ouviam, e íam calmas, amigas dos cervos, contavam-lhe os segredos na noite, e os cervos, chamavam seus amigos tamanduás e tatus, que reservados, guardaram e não aguardaram para ir conhecê-la.
A Mãe se assustou com a tremenda comoção, nunca havia visto tantos reunidos, e as árvores ao seu redor se juntaram em olhares para sua querida filha, não mais pequena, e bem podiam ver sua reação.
A sua planta, Omélia, de Flor Folha e Caule, que reunia todos os elementos em um só, foi estendendo as suas folhas para os passantes, e conforme estes vinham, mais pareciam brotar naturalmente de seus caules. Os pequenos membros de toque dos animais, bem que podíamos chamar de mãos, tocavam a pequena e deixavam vestígios de sua existência, e isso fazia a planta tremer um bocadinho, como quem absorve as histórias e deixa reverberar no corpo, e as formigas sentiam, também, as raízes vibrarem no solo.
Quando todos foram embora, cansada, resolveu se deitar, e sua mãe, que tinha ído de assustada para deslumbrada pela força da filha e carisma, passou a ficar cuidadosa para que nesta noite ela tivesse o devido descanso, e pediu para os ventos que estes acalmassem sua filha, e dessem suporte para suas folhas para essa noite. Os ventos, gentis, atenderam, este primeiro favor que ela lhes pediu.
Na noite, a pequena grande com suas folhas descansadas, deixou a lua repousar nela a sua luz. As folhas, que espiralavam nas noites, estavam torcidas, e não podiam se formar para emanar a luz. A Luz da lua refletia no branco das folhas e esta refletia para a grama, que refletida de volta, a planta assim recebia, nutrindo, e pouco a pouco se recompondo. Cheia, começou a lembrar dos folhetins das gramas e capims e pediu para uma delas que lhes dissessem como ser pontiagudos, pois queria saber.
As gramas e os capims não souberam responder, e dormiram. Ela ficou a refletir.
Quando o Sol apareceu, ela pela primeira vez, começou a sugar sua energia nas folhas brancas, pois brotaram pequenos espaços pretos, pintados, bem pequenos, como pequenos pandas a brincar entre linhas de árvores de bambus, e nestes espaços pretos, recebia a luz do Sol, e isto lhe dava energia para se pintar mais de preto, aqui ou ali, revestida de seu único caule rosa avermelhado que pingado de azul, agora também tinha cor de Verde.
A Mãe olhava as transformações da filha, acalmada de seus destinos, pois olhava para os ventos e sabiam que estes podiam lhe ajudar. Os ventos carregaram a noite mais uma vez, e esta trouxe consigo as notas brancas da lua sobre sua filha, branquinha e com o caule de quase todas as cores agora. As notas musicais inaudíveis do canto leitoso da lua acalmaram e embalsamaram-na na noite.
No outro dia, sobre o Sol, podíamos ver que as pintas pretas haviam se contornado, deixando os bambus dos pandas que estavam lá para brincar mais cedidos e mais lineares. Os pandas repousavam sobre os bambus e davam as mãos uns aos outros. Alguns se separavam, mas só para se dar as mãos novamente, e assim, nesta dança lenta, a pequena foi crescendo junto dos imaginários pandas que brincavam por ali.
Os Ventos vieram com o cair da tarde, estavam indo ou voltando para o mar, uns vinham, outros estavam voltando, e nestes muitos encontros, os vários ventos folhearam as folhas da planta, e se esta havia se organizado dentro das folhas, agora haveria de estar frustrada porque se bagunçou toda para fora, com as folhas parecendo cabelos que acordam mal acordados.
A Mãe quis acudir a filha, e desta vez, lhe deu um pequeno pedaço de fita que uma garça por lá havia deixado. Tinha encontrado peregrinando os alimentos do mar, ele achou a fita laçada com uma Carta, mas havia comido a Carta e resolveu dar o laço para aquela árvore Olmos, que havia lhe dado sombra e descanso. E com o laço, a filha amarrou as folhas para não se avolumarem e nem ela se confundir as suas folhas fronteiras das posteriores.
Os Animais já vinham menos frequentemente. Depois da comoção, aceitaram naturalmente a diversidade, e só alguns animais vinham de vez em quando acompanhados de seus amigos para conversar sobre a plantinha, mas poucas vezes podiam sentar e sentir com ela, visto que à medida que crescia, suas folhas todas já não mais podiam ser tocadas devido seu grande número e altura.
As exceções da presença dos animais se faziam valer nos pandas imaginários, que continuavam a se multiplicar preenchendo o branco das folhas de branco e preto, a brincar e se deitarem uns sobre os muitos outros. Seus bambus já estavam alinhados através de todas as folhas, e os pandas pensaram em pintar todos os bambus de branco, pra que pudessem se reconhecer quando vissem os seus pêlos pretos à distância. E foi o que fizeram.
Já era a parte da Lua quando os ursos imaginados da Omélia cresciam e lá estavam. Sua mãe já envelhecia, e era maior do que já foi, e isso vale também para Omélia, pois já tinha a altura de dois leões empilhados um em cima do outro.
A manhã veio. O sol escuro consolidava mais ainda as posições das pintas brancas e pretas, que agora, certas de si, se esticavam nas folhas alinhadas e , uma após a outra. Os seus símbolos, a sua história, Omélia daria, uma história que de longe, se lia, os sons da floresta e no afetar de todos os animais e seres. Mandou uma mensagem pelos pardais às garças, e disse que um homem do mar que tivesse saudade da terra, poderia vir vê-la.
O Pelicano escolheu um dos mais simples, um pescador que não pescava peixes pois olhava muito para o céu, e por isso primeira este pôde lhe ver. Pelo mesmo motivo, haveria uma necessidade de ler pois o seu olhar desceria para a terra ao se encantar com ela, e quando estivesse no mar, sentiria falta dela, mas a procuraria e a acharia abaixo de si, no fundo do mar, abaixo dos peixes.
O Omen chegou pingando, pois havia pulado de sua jangada ansioso para conhecer a planta. E nela repousou seus olhos. Ela se apresentou, abriu os seus galhos, e as folhas, organizadas pela fita, eram um leque bonito e cheiroso, tinha cheiro de boldo e de água açucarada, dentro das folhas, havia uma festa de preto e branco, que para o pescador era uma coisa familiar.
Seguir um Pelicano por saber que ele tem algo a dizer já é de feitio de inocência, e só podia ser assim quando desduvidou de que estava sim, a ler a primeira planta que era um Livro que havia visto na vida. Deleitado, ele começou a ler suas histórias, ao que a luz do Sol intensificava a leitura e assim ele conseguia ler duas histórias contadas no mesmo livro através das duas cores.
Era um livro que ele achou inteiro por ter duas histórias em uma e que era emoldurado em um bonito arco íris. Quem quer que tenha feito isso, disse para si mesmo ao terminar de ler, estava agradecido a este quem.
Aceitando o comentário indireto, Mãe e Filha se sentiram mulherageadas pelo agradecimento. A Noite veio, a Lua voltou, e a garça e o pescador se foram, assim como o Sol por aquele dia.
Aceitando o comentário indireto, Mãe e Filha se sentiram mulherageadas pelo agradecimento. A Noite veio, a Lua voltou, e a garça e o pescador se foram, assim como o Sol por aquele dia.
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