segunda-feira, 7 de agosto de 2023

hidrelétricas

o rio de nossas vidas corre
e atrás de energia fazemos
empresas

o rio esbarrado
se retrai e cava no chão
uma pequena depressão

[…]

revolta

quarta-feira, 2 de maio de 2018

tirar leite de pedra

é dor de ter o peito lascinado, o rosto suando e tonto, de deixar o meu discernimento frágil: as minhas palavras tem poder, e as do outro também. é fácil nomear uma coisa errada: é possível quase assassiná-la, a palavra do outro, quando eu dou outro nome. qualquer visão, alucinação ou sonho, perde a identidade como alguém pode perder o nome próprio, se batizado por outros. existe uma realidade intangível, de espíritos da floresta, do ar, e de não sei quantos que merecem também ser chamados pelo nome. reconhecimento. e qualquer outro nome é violência. é como deixar o outro nomear a sua dor sem o seu consentimento e não poder corrigí-lo. é dor. como, posso eu, dizer que algo acontece por motivos: quando não sei como é aquilo para esta pessoa, como posso dizer, você tem câncer, a vida quis assim, ou, você teve os parentes mortos, a vida quis assim. não. querem tirar a dignidade até dos mortos, como das sensações que já passaram. como falar que é apenas um primeiro amor quando alguém está em elação de primeiro amor, ou falar para si, foi apenas um primeiro amor. assim que aconteceu comigo. dói, e muito embora eu saiba que construir um significado qualquer e simples, como o de ganhar um novo nome dado por si mesmo e honroso e ser reconhecido (a) pelos outros como tal, passe por atribuir sentido, nunca, nunca quero profetizar palavras ou sentidos que lá não estão. isso é dor. dor. deturpa. ainda assim, em meus sonhos faço uma mão de garra que quer transformar ar em água, estanho em prata, eu quero transmutar coisas que não podem ser mudadas, eu quero tirar a dor, eu quero dar um novo nome para algo que mal é cognoscível e eu manipulo seu nascimento. posso, pedir ou induzir à uma árvore que cresça reta, posso mesmo? ela sabe muito mais de seu ecossistema que eu, mamífero. posso eu pedir a algo de minha vida se submeta à uma reta? não, não posso. posso apenas chover com lágrimas toda essa dor e me banhar nos raios de sol que nem sei quais são, que nem sei quais são… e esperar, esperar… 

quinta-feira, 19 de outubro de 2017